1. |
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sinto um chamado que não é pelo som,
vem da mata que descansa distante,
de lá, os ventos trazem não só pó,
mas também a saudade do que seremos
há talvez além de só paz em mar profundo
refugios encantados
saberes esquecidos pelo mundo
um sossego que penetra corpos
uma solidão de mortos que nos importam
não é para o céu que os espíritos vão
e sim para o chão onde a água pesa mais
que o cantar das ondas te botes a dormir
e que elas não te façam pensar no fim por vir
em litorais onde ainda há verde
jazem placas suspensas que a mente ouve:
morras bem sozinha
portanto, estejas bem sozinha
não ouses mais fraquejar a baixo de nuvens
depois do dia que te vi sorrir
com os olhos cerrados e expressão leve,
louvei o futuro que pruns demora
e lamentei por outros que é breve
ao subir rios pude cumprimentar horizontes
e em alto ar, num altar, ouvi bem o som ausente
desafiei deus e jurou-me que não mente
"estou morto"
ele me garantiu que a morte é silenciosa
e que ai! de nós se não buscarmos paz agora.
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2. |
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enquanto desço na companhia de amigos-peixes
miro às serras que se constroem longe
absorvi de vez a pequenez de mim, mas,
não digo que do absoluto me despedi sem dúvida
o que serão daqueles que são de culpa?
que não evitam pensar em suas falhas
que não evitam se esconder entre folhas
como se envergonhassem por suas escolhas
como se não pudessem chorar sob cascatas
cada gota d'ágrima não será julgada, pois,
sera mais uma dentre tantas outras,
então chores tu também
nascestes em pranto, com certeza mundano
e não é por isso que deves usar essa máscara
há cores que não esperam por ti
barulhos que são cegos à tua existência
polens que envenenam
árvores que dançam sobre cabeças
estão nos pássaros, nas águas, e correntes
prontos para te abraçarem,
prontos para te levarem embora.
prontos para te matarem
embora, um curto assobio
disperse a névoa de tua cabeça,
não deixes de recuperar a noção de vontade
e do fogo que arde sem maldade
continue a subir o rio com leveza,
com ou sem correnteza.
perseveres.
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3. |
Clarividência em Xara
12:26
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haverá sempre uma chance em xara, de calma
pois, zelarão teu descanso,
"durma agora com os com o pé à terra e vestido de nenhum manto"
quando segui tais conselhos,
obtive uma visão mais clara,
deixei de atrofiar minha intuição
e superei a vergonha de ser humano
há uma divindade em sermos como somos
uma maldição por ser pensante venefico
não mais me iludo com a feiúra das palavras
me despeço da música,
minha maior aliada,
que me permitiu ouvir o ruidar do solo
os ensinamentos que com esse poema te conto
sei não só através de sonhos,
mas pelo meu corpo todo,
que nosso fim está próximo,
eu escuto ele chegar
está não só em meu sangue
mas em meu espirito
a lamentação de meus ascendentes
sempre me chamam a sonhar
quando acordei;
eu estava no ar
petrificado,
no ar
vi nossas mãos dadas
em ciranda que flutua,
com outros animais, criaturas,
semelhantes a nós,
levitamos ao topo das árvores,
cantávamos "alegria!, melancolia!",
chorávamos ao lembrar que somos amados,
dançávamos em celebração a vida,
sopros faziam a roda girar;
fomos embora em direção ao sol.
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4. |
Saudades Florescem
13:43
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saudade
dos rios que nutrem meu corpo
e da terra que me habita
dos ventos que movimentam energias
e do fogo que alimenta minha intuição
já não são carnes e ossos
que me sustentam
mas a saudade da minha família
mesmo já tendo partido há tempo
para sempre pertence em meu corpo
sinto os tambores
que já foram tocados
no tremer da terra de hoje
ainda rufam e rufam
vejo não só em minha mente
as vidas que tive no passado
um elo que não se perde
que não é barrado nem pelas maiores devastações
cada gota de seiva que engulo
ecoa em euforia
saudade
dos nossos olhos virados ao branco
das faíscas guiadas por nossas mãos
das flores que nos alimentavam
e das folhas que nos curavam
apenas em sonhos podemos nos ter de novo
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5. |
Valhacouto de Lírios
11:23
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lírios, lírios
valhacoutam um lar e
exalam um cheiro de mil mortos
corre-se para a mata
através d'arvores, para ninguém avistar
em fortaleza
em meditação se descobre que nunca haverá solidão
minha memória é minha companheira
toda a imaginação experienciada
sensação compartilhada
sentimentos vindo d'água
fogo que ardia
toda seiva já bebida
toda vida já vivida,
toda morte já morrida.
de toda ancestralidade
uma visão eu tive,
do que eu tinha que fazer.
me isolar de toda humanidade
em busca do saber
sim por misantropia
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6. |
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um peso que paira no ar
não pode ser erguido
corruptos pensamentos
corruptos hábitos
nos assolam de fora e de dentro
um destino amaldiçoado
em vida urbana
vida e morte urbana
mas quando nossos lores
mais antigos
são reunidos em volta de fogueira
e nossa música é tocada
sobre nossas mais verdadeiras lamentações
ergue-se um feitiço
o distante rufar dos tambores
sumona manipanso
contra delírio urbano
para limpar a sujeira das terras cinzas
eu prefiro perder minha fé
a todas as mágicas coisas que existem sob o céu,
do que continuar vagando em ruas asfaltadas
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